quarta-feira, 6 de outubro de 2010
A aero-moto, e a outra
Tudo parecia indicar que a MotoClássica de Setembro ia conseguir estar cá fora uns dias antes da anterior, mas não. Feriados e outras considerações extra-revista fizeram com que ela só vá sair da gráfica na terça que vem. Uma penoca mas não vale a pena chorar. A vida tem destas coisas e é preciso é olhar para a frente que no nosso caso significa olhar para a de Outubro que já se vai começando a ganhar forma. E, como já referi aqui no outro dia, um dos artigos dela que me vai ajudar a ficar ainda mais carequinha é o da colecção do Zé Pereira, um dos, para não dizer o maior, coleccionador de clássicas em Portugal. Quando há uns dois meses atrás, quase dois anos depois de ter sabido da sua existência, tive finalmente a oportunidade de a conhecer , ao fim de umas boas horas - umas cinco ou seis a ver motos - senti estar a ficar com sintomas do chamado cansaço das duas rodas. Eram tantas, tantas e tantas motos que já não tinha nem cabeça nem miolos para as ver todas. Mas como estava em trabalho e não em turismo - e como até tinha uma boa ajuda, a da imperdível Beatriz Máximo - lá conseguimos chegar ao fim e fazer um levantamento bastante razoável da dita. Agora estamos na fase de catalogar as motos e enquanto algumas não é assim tão complicado outras, sobretudo as mais velhinhas, é um verdadeiro quebra-cabeças pois aquelas marcas dos anos 10 e dos anos 20 eram às centenas e muitas delas tiveram uma existência muito breve, nalguns casos só de um ou dois anos. E foi numa dessas buscas que descobri a espectacular aero-moto de Alessandro Anzani. Estava a ver se descobria a marca de uma das motos mais antigas da colecção do Zé e a única referência que tinha dela é que é suíça e é dos anos 10. Fui ver que marcas de motos suíças havia dessa época e havia ainda umas quantas, umas 10, pelo que a investigação teve que ser aprofundada. No meio dessas buscas dei porém com a aero-moto, da qual já tinha visto algumas imagens mas cuja história era um mistério. A ideia da mesma é de um advogado francês, Ernst Archdeacon, fascinado pelo sonho de conseguir pôr o homem a voar. Os Estados Unidos, com os irmãos Wright, estavam na dianteira desta corrida mas na Europa, Ernst, o marquês Deutsch, o conde De Dion e outros franceses abastados fervilhavam com ideias para atingir o mesmo fim. Mais que um projecto de "avião", a aero-moto parece ter sido uma moto cujo motor para além de fazer andar a moto também fazia mover uma hélice de duas pás cujo objectivo era sobretudo permitir estudar o comportamento aerodinâmico da hélice. O projeto da moto foi encomendado a Alessandro Anzani que apesar de italiano tinha uma pequena oficina de construção de motos e motores para motos em Paris e que mais tarde se tornou conhecido pelas suas pace-motos para dirigir bicicletas em velódromos. Tendo sido utilizada em 1906 e 1907, a aero-moto chegou a alcançar velocidades da ordem dos 80 kms/hora e embora Anzani nunca tenha sido o piloto oficial dos testes, ele chegou a andar com ela, como atesta esta foto de Setembro de 1906. Para além de ter sido utilizada para testes, a aero-moto ainda tem outro mérito. Serviu de base para a aero-bicicleta, uma bicicleta com hélice com que Jacques Poulain, o grande campeão de ciclismo francês da mesma época, tentou voar em Abril de 1921. Jacques conseguiu elevar-se no ar dois metros numa distância de 10 metros e desde aí passou a ser conhecido pelo nome de ange Jacques, o anjo Jacques!
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