quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O limpa-chaminés que queria ser campeão

Cá na casa, o chefe não dá descanso. Nem depois da maratona que foi para fecharmos a última revista - que vai chegar aos assinantes já no começo da semana que vem e às bancas na quinta ou na sexta - tivemos direito a uma folguinha. Já temos que estar a trabalhar na próxima e como se isso não chegasse já fomos informados que vamos ter que trabalhar no fim de semana (sábado na exposição de clássicas de Perelhal e domingo na Automobilia das Caldas da da Raínha) mas como o assunto é motos, e motos clássicas em particular, menos mal. O tema é fascinantes, os assuntos sempre novos, e todos os dias se aprende mais qualquer coisa. E ontem à noite, a novidade do dia foi este amigo e a moto dele, qual dos dois com aspecto mais bizarro. Descubri-o quando estava a seleccionar as fotografias do artigo do próximo número dedicado a Colombres, um dos maiores senão o maior encontro de motos clássicas da Europa. Entre centenas de fotografias que a nossa fotógrafa diplomada nos trouxe de lá, tinha que escolher 20 ou 30 e já estava há algumas horas naquilo quando de repente me deparo com esta alucinação de máquina. Nunca tinha visto nada igual, nem parecido mas a moto tinha um pequeno cartaz junto ao banco de trás que dizia "Geroge Shuttleworth" e a partir daí fez-se luz. George foi o personagem central de um filme de 1935 sobre um limpa-chaminés vulgar que tinha um sonho: ir correr ao TT da Ilha de Mann, e mais, ganhar a corrida. Na altura, o TT era nada mais nada menos que a prova máxima de velocidade em duas rodas a nível mundial e atraía tantas ou mais atenções que uma final da Champion's League ou algo assim. Apesar de viver do seu pobre salário de limpa-chaminés, George conseguia convencer o avô a emprestar-lhe um pouco das suas poupanças e com elas construiu na cozinha da sua casa uma moto de competição de aspecto duvidoso mas com uma exótica carenagem envolvente de xadrez. Com o que lhe sobrou do dinheiro foi com a moto até à ilha de Mannn mas além de ter enjoado que nem um perdido no barco entre Liverpool e a ilha, ainda perdeu a carteira. Valeu-lhe uma donzela que conheceu no caminho, interpretada pela maravilhosa a actriz Florence Desmond (uma das grandes divas do cinema dos anos 30). Como só podia acontecer nos filmes daquela época, este também teve um final feliz. Depois de uma corrida feita de trás para a frente, e com os "maus" a tentarem atirá-lo para fora da pista e outras patifarias, George chega á última volta em primeiro lugar mas em cima da recta da meta a gasolina acaba-se e tem que empurrar a moto até à meta, conseguindo por um triz não ser ultrapassado pelo segundo classificad. No fim, além de ganhar a prova ainda ganha o coração da donzela e os dois são muito felizes para sempre. Na altura em que foi rodado, o filme foi um grande sucesso de bilheteira para a época e ainda hoje, quem vai pela primeira vez à ilha de Mann pode vê-lo na única sala de cinema de Douglas, a capital da ilha (por alturas das corridas sendo necessário comprar-se bilhetes de véspera). Pois este homem que apreceu em Colombres, é um sósia perfeito do George (até tem os dentes todos saídos para fora como George tinha), a moto é uma Triumph dos anos 50 mas com o look da AJS do filme e o conjunto, escusado será dizer, foi uma das principais atracções do encontro espanhol. Até em Inglaterra - que cada vez estou mais convencido ser a terra de eleição dos malucos - ele é uma atracção e é convidado de honra para encontros de motos e outros que nem têm a ver com máquinas de duas rodas. Um espeta!

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